Hoje, quero começar a contar uma parte muito especial da história da minha avó Alice. E o primeiro aspecto da vida dela que quero compartilhar é o fato de que ela foi mãe solo. Mas, antes de entrarmos nessa parte, preciso falar um pouco sobre quem ela era.
Minha avó cresceu em uma família grande e unida, sendo a segunda mais nova de quatro irmãos: Iracema, Osvaldo, Alice e Cleopatria. A casa estava sempre cheia de risadas, conversas, e o cuidado uns com os outros era uma constante. Ela sempre foi uma mulher forte, determinada, e, embora a vida lhe reservasse alguns desafios, nunca perdeu a coragem de seguir em frente.
Quando meu avô deixou o lar, por volta de 1947, minha avó se viu diante de uma situação que mudaria sua vida para sempre: criar seu filho sozinha. E naquela época, isso não era fácil. As mães solo carregavam um peso que ia muito além da responsabilidade de criar e sustentar seus filhos. Elas enfrentavam também o olhar crítico da sociedade, que, em muitos casos, não compreendia essa escolha ou situação.
Mas minha avó nunca se deixou abater. Ela encontrou forças dentro de si para criar um ambiente cheio de amor e segurança para o filho, mesmo com as dificuldades que a cercavam. Além de todas as responsabilidades, minha avó tinha uma escola de bordado à máquina e dava aulas para muitas moças de famílias tradicionais da cidade. As turmas eram sempre cheias, com cerca de 10 alunas cada, inclusive aos finais de semana. Ela fazia trabalhos incríveis, muito reconhecidos na cidade, e era altamente procurada. Naquela época, era comum que as moças que iam se casar quisessem aprender bordado e ter uma máquina de costura. Havia uma grande demanda por esses cursos, e minha avó se destacava não apenas pelo seu talento, mas também pela forma acolhedora com que tratava todas as suas alunas, criando um ambiente de aprendizado e amizade. As moças não só aprendiam com ela, mas também a admiravam profundamente.
Até hoje, guardo muitos dos trabalhos que ela fez. Eles são uma parte preciosa da nossa história familiar, testemunhos da sua dedicação e talento. Ela gostava profundamente de trabalhar e fez disso não só a sua trajetória profissional, mas também pessoal. Foi por meio desse trabalho que ela conseguiu dar as bases e os valores de vida ao meu pai.
Minha avó enfrentou grandes desafios, especialmente em uma época em que os direitos das mulheres ainda eram muito limitados. Ao recordar sua trajetória, fica evidente como as leis e a sociedade evoluíram, especialmente no que diz respeito à dissolução dos casamentos. Naquele tempo, minha avó, como tantas outras mulheres, não tinha o direito de se divorciar. O máximo que o ordenamento jurídico oferecia era o “desquite”, que encerrava a convivência, mas não permitia que ela ou outras mulheres refizessem suas vidas com um novo casamento sob proteção legal.
Somente em 1977, com a aprovação da Lei do Divórcio, é que casais puderam, pela primeira vez, se divorciar legalmente e casar novamente. Embora essa fosse uma conquista significativa, havia ainda limitações, como o fato de que a lei só permitia um único divórcio. Foi somente com a Constituição de 1988 que as restrições foram completamente eliminadas, permitindo que as pessoas se divorciassem e se casassem quantas vezes necessário, conferindo mais liberdade e proteção jurídica às famílias.
Essas mudanças na legislação são fundamentais, pois refletem uma evolução no reconhecimento dos direitos das mulheres e da importância de permitir que elas reconstituam suas vidas com dignidade e segurança jurídica. O que antes era cercado de limitações e preconceitos, hoje é tratado com muito mais respeito e compreensão.
A história da minha avó Alice é um exemplo de como o amor de uma mãe e a sua força podem superar qualquer obstáculo, independentemente das barreiras impostas pela sociedade da época. E, mais do que isso, é uma lembrança de como as mulheres têm lutado, geração após geração, para conquistar seus direitos e garantir um futuro melhor para suas famílias. E eu não poderia estar mais orgulhosa de contar essa parte da vida dela.
Você conhece uma história de superação e força como a da minha avó? Compartilhe nos comentários e vamos juntos celebrar as batalhas e conquistas das mulheres que nos inspiram.
2 Comentários
Lindo começo Lilian!
Feliz por acompanhar essa história que promete, alem de compartilhamento de conhecimentos, muita emoção!
Obrigada, Teo! E você viveu muito dessa história comigo… Fico muito feliz por isso!