ANIVERSÁRIO DE ALICE: REFLEXÕES SOBRE A PASSAGEM DO TEMPO

No último domingo, dia 02/02/2025, teria sido aniversário da minha avó. Se estivesse viva, ela teria completado 106 anos. Sempre que essa data chega, lembro-me dela com carinho.

Minha avó era uma mulher de gênio forte, sempre muito clara sobre o que queria e principalmente sobre o que não queria. Ela definitivamente não era de comemorar seus próprios aniversários com festas ou reuniões. Inexplicavelmente, tinha um talento especial em transformar qualquer outro dia na ocasião perfeita, desde que fosse para alguém que amasse.

Em um artigo anterior, contei como os brigadeiros que ela preparava com tanto carinho se tornaram a marca registrada dos meus aniversários. Era um gesto simples que traduzia seu amor discreto. Seu talento de colocar toda a doçura numa receita, transformava os meus dias de festa em algo especial, apesar de ela mesma não ter interesse em celebrar sua própria data. Acho que ela concentrava todas as celebrações “não feitas” dela para colocar um extra de amor e açúcar nas minhas.

Sua relutância em celebrar o próprio aniversário era um ponto em que nossas visões se divergiam completamente. Eu não sei exatamente o motivo que a levava a pensar desse jeito. Para ela, talvez não houvesse razão para celebrar a passagem do tempo. Será que era por medo do fim? Curiosamente, ela dizia não temer a morte. Pode ser que enxergasse que perder a juventude não era exatamente uma virtude e essa é uma perspectiva que sempre me intrigou.

Eu, por outro lado, vejo os aniversários como uma oportunidade de reflexão sobre o amadurecimento e a evolução pessoal. Para mim, o envelhecimento é uma jornada de crescimento que merece, sem dúvida, alguma celebração. Mesmo não sendo fã de grandes festas, sinto que essa é uma oportunidade importante para reunir a família, lembrar do caminho percorrido e fortalecer os laços que nos unem.

Na minha área de atuação, o Direito de Família e Sucessões, o ciclo da vida ganha uma relevância especial, tocando diretamente os aspectos mais íntimos das nossas relações. Criamos nossos filhos com o intuito de prepará-los para o futuro e, naturalmente, esperamos que, um dia, eles estejam prontos para cuidar de nós, tal como assumimos a responsabilidade de cuidar dos nossos pais à medida que eles envelhecem.

Tenho lidado com muitos casos em que os filhos se tornam os cuidadores dos pais idosos, especialmente quando a doença também se apresenta. São momentos desafiadores, mas que fazem parte da passagem do tempo. Recentemente, atendi uma família cujos quatro filhos se uniram para cuidar dos pais, que adoeceram juntos e acabaram falecendo um após o outro, depois de um sofrido processo de interdição. Embora marcados pela dor, esses momentos evidenciam a força do tempo, o amadurecimento e o ciclo contínuo e interdependente da vida.

Definitivamente, ver os filhos crescerem e se tornarem indivíduos capazes de enfrentar suas próprias caminhadas é uma das maiores alegrias da vida. Essa troca de cuidados ao longo das gerações é uma dança harmoniosa de reciprocidade, na qual o orgulho e o amor se entrelaçam enquanto acompanhamos o amadurecimento e a evolução dos nossos entes queridos.

O ciclo da vida mostra sua beleza ao nos ensinar a aceitar e valorizar cada idade como parte de algo maior. Essa troca de cuidados, tanto na vida quanto no papel, revela a serena beleza dos compromissos assumidos e cumpridos, reforçando nossas raízes na essência da família.

E você, como encara a passagem do tempo? Que significado encontra nos aniversários e no envelhecimento? Convido você, leitor, a refletir comigo sobre estas questões, pois elas nos fazem perceber o valor do tempo em nossas vidas. Afinal, o que realmente importa é a maneira como vivemos e as experiências significativas que acumulamos ao longo da nossa jornada. Que possamos sempre valorizar cada momento e aprendizado dessa caminhada chamada vida!

Lílian Gaspar

Advogada | Família e Sucessões

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Olá! Eu sou a Lílian

Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, turma de 2005; especialista em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009; mestra em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014; advogada, sócia do escritório Henrique & Gaspar Sociedade de Advogados.

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